“A adolescência é um experimento social que falhou” – é o que afirma o doutor Robert Epstein em seu livro “Teen 2.0”. Para ele, a adolescência é uma invenção social e representa um período inútil de banalidades que quebra a continuidade natural entre a infância e a idade adulta.
Essa visão pessimista é confirmada quando vemos multiplicarem-se os casos de jovens bebendo, fumando, dirigindo, fazendo sexo, cometendo crimes, matando, e raramente demonstrando um comportamento responsável.
Nós herdamos boa parte de nossos conceitos de adolescência do psicólogo G. Stanley Hall e seu livro de 1883, “The Contents of Children’s Minds”. Ele criou o estereótipo do jovem rebelde, violento e irresponsável que perdura até hoje. E isso virou um ciclo: a sociedade os define assim e eles começam a agir de acordo com tal definição. O comportamento da juventude reflete a baixa expectativa da sociedade em torno deles. Se eles são tratados como bebês consumidores improdutivos, é assim que vão se comportar.
Realmente, eles não são maduros. Mas a maioria deles não está vivendo o seu verdadeiro potencial. Nós os subestimamos, e eles se conformam com isso. O modo como nós olhamos os adolescentes é equivocado, moldado mais por uma cultura pecaminosa que por uma visão bíblica.
Deus não tem uma visão tão pessimista dos jovens. A Bíblia e a história do cristianismo mostram que o Senhor usou e quer usá-los: “Há necessidade de jovens. Deus os chama aos campos missionários.” (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 517) “Centenas de jovens se deviam ter preparado para desempenhar um papel na obra de espalhar a semente da verdade junto a todas as águas.” (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 515). E o preparo deve ser rápido, pois “há uma grande obra a ser feita no mundo, uma grande obra a ser feita nos campos estrangeiros. Têm de ser estabelecidas escolas para que a juventude, as crianças e os de idade madura, possam ser educados o mais rápido possível para entrar nos campos missionários” (A Igreja Remanescente, p. 39).
Mais que um público a ser entretido, os adolescentes e jovens são um exército a ser treinado e enviado para a batalha. Mas a batalha é real e séria, não uma “brincadeira espiritualizada”. Os jovens devem receber missões que exijam o máximo deles. Dar-lhes tarefas leves é exatamente o oposto do que orienta a revelação divina. Eles são “mais aptos a suportar incômodos e fadigas”(Conselhos aos professores, pais e estudantes, 517) e “deviam ser pioneiros em todo empreendimento que exigisse fadiga e sacrifício, ao passo que os sobrecarregados servos de Cristo deviam ser prezados como conselheiros, para animar e abençoar os que têm de desferir os mais pesados golpes em favor de Deus.”(Conselhos aos professores, pais e estudantes, 517).
O discurso politicamente correto que deu origem a uma geração de adolescentes inúteis à sociedade, superprotegidos e isentos de responsabilidades não deve encontrar espaço na Igreja Adventista. Aqueles que hoje deveriam estar “desferindo os mais pesados golpes em favor de Deus” não podem ser cristãos raquíticos, indolentes, anões espirituais.
Devemos prepará-los e confiar-lhes “sérias responsabilidades” (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 516). Segundo Ellen White, “Deus designou que eles fossem preparados em nossos colégios e mediante a associação no trabalho com homens experientes, de maneira que se achem preparados a ocupar lugares de utilidade nesta causa. Cumpre-nos mostrar confiança em nossos jovens.” (Conselhos aos professores, pais e estudantes, 516).
A juventude precisa superar essa névoa pessimista que envolve essa fase da vida. Como reformadores, não podemos aceitar passivamente que a sociedade defina nossos conceitos e valores. Ser missionário deve voltar a ser o sonho de nossas crianças, sonho que pode ser realizado já na juventude. “Ninguém despreze a tua mocidade” (1 Tm 4:12a).